Os números da fome no Brasil estão em rápida ascensão e nos impressionam. São um triste reflexo do contexto de degradação social e de retrocessos institucionais, acentuados pelas consequências da pandemia, que levaram ao empobrecimento da sociedade brasileira.
Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, em junho de 2022, no Brasil, 33,1 milhões de pessoas não tinham o que comer. Eram mais de 14 milhões de brasileiros com fome em pouco mais de um ano; mais da metade (58,7%) da população brasileira convivendo com a insegurança alimentar em algum grau (leve, moderado ou grave). O Brasil regrediu para um patamar equivalente a década de 1990, com muitos brasileiros incapazes de se alimentar adequadamente. Isso significa que é 6 de cada 10 pessoas (125 milhões da população brasileira) não conseguem acesso pleno à alimentação.
“Fruto da indiferença e da desigualdade social, tal como a situação de pobreza, a fome existe também porque algumas pessoas deixaram de olhar para seus semelhantes”, diz o padre Patriky Samuel Batista, Secretário Executivo para Campanhas da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em publicação no “O Domingo” de hoje (26). Parece que naturalizamos a fome e normatizamos a indiferença. A fome é triste realidade que atualmente temos diante dos olhos. É impossível não perceber o grito de muitos irmãos e irmãs que não sabem se hoje, enquanto refletimos sobre o tema, terão algo para comer.
Os noticiários, as pesquisas, os dados e estatísticas, os inúmeros diagnósticos, a mídia em geral, as redes sociais, os irmãos e irmãs que pedem auxílio nos semáforos das grandes cidades e o aumento das pessoas em situação de rua denunciam que algo não vai bem. A fome vai além dos números e das estatísticas. Ela tem nome, rosto e história. É a sobrevivência e a dignidade humana que estão em perigo.
Constituindo uma necessidade natural e um poderoso instinto de sobrevivência, a fome possui uma dimensão social que precisa ser enfrentada. Sem nutrição, os dons e talentos não se desenvolvem. Sem comida, não há vida. A fome subtrai as energias dispensadas em favor de um mundo mais justo e solidário. Fere a dignidade humana e desfigura a imagem e semelhança de Deus.