“O tatuador de Auschwitz” – por Marcos Tomé

Um belo livro que se enquadra na classificação de romance histórico, “O Tatuador de Auschwitz” é da autoria de Heather Morris.

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Baseado na história real de um amor que desafiou os horrores dos campos de concentração

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Uma das páginas mais sangrentas e desumanas da nossa História, foi a Segunda Guerra Mundial. Várias são as narrativas que recontam algumas facetas deste período, agindo como uma tentativa de fazer com que a própria humanidade, além de não esquecer, não passe por estes horrores novamente. A literatura tem destas coisas: ora funciona como um escapismo, nos aliviando da trágica realidade, ora funciona para nos confrontar com estas dores, até para evitar que elas se repitam.

“A política nos ajuda a entender o mundo até não o entendermos mais, e, depois, faz com que você acabe em um campo de prisioneiros. A política e também a religião.”

Dentre os inúmeros horrores deflagrados nesta época, uma temática que muito me atrai, mesmo me deixando fortemente impactado, diz respeito à perseguição aos judeus e, consequentemente, à tentativa de eliminação dessa “raça”, de acordo com os idealizadores deste “projeto”. Uma das minhas leituras, feitas recentemente neste período de reclusão social, diz respeito a este histórico genocídio, nesta dica de leitura que trago este mês.

Um belo livro que se enquadra na classificação de romance histórico, “O Tatuador de Auschwitz” é da autoria de Heather Morris. A autora conheceu Lale Sokolov, o protagonista desta história com quem desenvolveu uma forte amizade. Desta relação, conforme esta amizade amadureceu, ele deu a ela a tarefa de contar ao mundo os segredos de sua vida durante o Holocausto. Inicialmente, concebeu a ideia para um roteiro de cinema, porém conseguiu antes realizar essa ideia em forma de livro.

A partir da versão desta capa, já nos chama a atenção pelos faixas azuis, que fazem uma referência às vestes dos prisioneiros nestes campos de concentração e extermínio. Logo abaixo, registro antigo da fachada do local onde foram confinados milhares de prisioneiros desta época, Auschwitz, um dos mais atuantes campos. Um detalhe que me chamou a atenção foi exatamente parte do título do livro que, na versão desta capa, aparece destacado em vermelho. Seria uma alusão ao sangue derramado neste local?

“Comida é moeda. Com ela, permanece-se vido. Ela traz força para se fazer o que pedem. Vive-se mais um dia. Sem ela, enfraquece-se a ponto de não mais se importar.”

Nesta narrativa, temos a história do jovem eslovaco Lale Sokolov. Seus pais recebem um comunicado oficial, na verdade uma convocação, exigindo que todos os filhos caçulas deveriam se apresentar ao governo para serem enviados à Alemanha. Em pleno período nazista, eles trabalhariam para este país. No decorrer da história, logo nos capítulos iniciais, somos levados a saber quem é esse tatuador ou por que este se tornou o título do livro. Um trabalho que servirá de combustível para todo o desenrolar da história.

Lale, por dominar vários idiomas, chama a atenção de um tatuador e logo é convidado a trabalhar como seu ajudante, tatuando nos prisioneiros judeus, os números de registros em seus braços. Prisioneiros que chegavam trazidos pelos nazistas – literalmente marcando na pele das vítimas o que se tornaria um grande símbolo do Holocausto. A partir desta tarefa, nosso personagem principal, aos poucos, percebe os reais motivos por que foi levado àquele local. Com ele, nós leitores participamos do dia a dia da construção de um dos campos de concentração alemães, dos galpões e até dos fornos onde milhares de judeus seriam cremados, após passarem pelas câmaras de gás.

“Escolher viver é um ato de rebeldia, uma forma de heroísmo.”

Tatuador de Auschwitz, nosso herói Lale, aproveita sua posição privilegiada para ajudar outros prisioneiros, trocando joias e dinheiro por comida para mantê-los vivos e designando funções administrativas para poupar seus companheiros do trabalho braçal do campo. Nesse ambiente, feito para destruir tudo o que tocasse, Lale conhece Gita e acabam vivendo um amor proibido, permitindo-se viver mesmo sabendo que a morte era iminente, já que “O amor não pode ser limitado por muros e cercas”. A partir daqui, temos uma outra tônica para esta história, o que passa a ser a maior razão desta narrativa. Não se trata mais da sobrevivência do tatuador, mas de um amor gerado em um ambiente impróprio para qualquer sentimento que tenha como raiz a bondade.

A partir deste encontro entre Lale Sokolov e Gita Fuhrmannova, esta torna-se também, aos poucos, a incrível história, baseada em fatos, que tem como núcleo um amor que as crueldades dentro dos muros de Auschwitz não foram capazes de impedir. Uma história que se torna um relato de um testemunho corajoso, daqueles que ousaram enfrentar o sistema da Alemanha nazista.

São 28 capítulos de uma história instigante, com diversas revelações, descrições espetaculares e depoimentos tocantes. Particularmente, de repente é como se o leitor fosse colocado naquele lugar, tornando-se um dos personagens, um dos amigos de Lale e de Gita. Como se trata de um registro histórico, ao término do livro, o leitor ainda pode encontrar dois epílogos de pessoas importantes ligadas ao protagonista e alguns registros fotográficos importantes. No mais, o que você, leitor, ainda espera para embarcar nesta aventura literária?

Autora: Heather Morris. Tradução: Carolina Caires e Petê Rissatti
Editora: Planeta. Páginas: 240

Marcos Tomé
Marcos Tomé
Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.

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