“Discurso da Servidão Voluntária” – por Marcos Tomé

O livro de La Boétie é uma análise política a respeito da obediência.

  • LIVRO: Discurso da Servidão Voluntária
  • AUTOR: Étienne de La Boétie
  • EDITORA: Martin Claret
  • TRADUTOR: Casemiro Limarth
  • Nº DE PÁGINAS: 131
  • EDIÇÃO: 2ª – BILÍNGUE

Trago para vocês mais uma dica de leitura. Atrelada, como busco sempre fazer, ao contexto pelo qual estamos passando. Isto torna a leitura mais ilustrada e, muitas vezes, vivenciada. É indispensável uma leitura que nos ajude a compreender mais e melhor o que acontece ao nosso redor. Embora muitas vezes seja difícil encarar as várias e duras realidades. Ainda mais quando o que acontece em nosso entorno acaba por nos atingir também, provocando inquietações em nosso interior. É o caso deste livro. Ele provoca inquietações.

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Discurso da servidão voluntária, de Étienne de La Boétie (Lê-se laboecí), é um texto integral, ou seja, completo e da forma como ele foi publicado originalmente. Ele é o livro de número 300, pois faz parte da coleção chamada “Coleção a obra prima de cada autor”. Por se tratar de uma obra prima, trata-se de um livro clássico. Antigo, mas que se tornou imprescindível para compreendermos o contexto em que ele foi escrito e o nosso contexto atual. Esta é uma das características de toda obra literária: que ela reflita não apenas o seu povo, os seus dilemas, o seu tempo, mas também propague suas luzes de forma infinita aos outros povos. E estas luzes, por assim dizer, acabam nos alcançando em pleno século XXI e os futuros séculos.

“A história do livro confunde-se, em muitos aspectos, com a história da humanidade. Sempre que escolhem frases e temas, e transmitem ideias e conceitos, os escritoes estão elegendo o que consideram significativo o momento histórico e cultural que vivem. E, assim, fornecem dados para a análise de sua sociedade.” Pág. 8

Algumas características desta edição nos chamam a atenção. Vamos a elas? O livro é dividido em três partes: a primeira, “Palavra do editor”, na qual a coleção nos é apresentada. Em um texto de seis páginas, o editor nos coloca a par do objetivo da coleção, traçando um pouco da história do livro e da leitura, bem como da importância desta coleção e sua proposta.

Casemiro Limarth, tradutor deste livro de La Boétie, vem logo em seguida com as outras duas partes. “Um grito de liberdade”, na qual ele traz, em cinco páginas, uma breve biografia do autor; o outro texto do tradutor é “Uma história curiosa”, também em cinco páginas, nas quais ele aborda o texto de La Boétie, considerando que é “Um texto militante”, “Um exemplar raríssimo” e “Uma obra sempre atual”.

“As obras de Étienne de La Boétie, que viveu no século XVI, só chegaram aos dias de hoje graças à sua amizade com Michel de Montaigne, escritor e ensaísta francês da Renascença. Pouco antes de morer, aos 32 anos de idade, Étienne (Estêvão em português) deixou em testamento seus escritos a Montaigne, que mais tarde destacou seus méritos nos Ensais e, em várias cartas, nas quais o apontou com oum dos  homens mais importantes do século.” Pág. 15

Após estes três textos introdutórios, que são essenciais para compreendermos mais e melhor o texto integral de La Boétie, o leitor começa a ter contato com o texto principal do livro: Discurso da servidão voluntária. O detalhe é que este texto, escrito em português, vai da página 31 à página 74 (lembrando que esta é a 4ª parte do livro). A 5ª parte e última é o mesmo texto, só que em francês: Discovrs de la servitude volontaire. Esta edição bilíngue (português/francês), dá em um único livro, a oportunidade de ler o texto em seu idioma original de produção e com notas de rodapé, em francês também. Particularmente, já que não tenho conhecimento suficiente neste outro idioma, a leitura para mim se encerrou na 4ª parte. Para os que têm, é outro deleite.

Cheguei a este livro através da indicação do professor e historiador Leandro Karnal, em um dos seus vídeos nos quais ele faz palestras sobre diversos temas. E uma das coisas que me atraíram à leitura foi o fato de que La Boétie, entre tantas curiosidades que cercam sua vida, escreveu este texto aos 18 anos de idade. Faleceu jovem também. E o tema abordado, totalmente intrigante a partir do título (bastante incoerente por sinal), foi outra coisa que me chamou a atenção. Sem falar nos trechos citados e comentados pelo próprio Karnal, o que reforça o convite e torna a leitura indispensável para todos nós. Até para os que não entendem nada sobre ciência política.

“…gostaria somente de entender como tantos homens, tantos burgos, tantas cidades e tantas nações suportam às vezes um tirano só, que não tem mais poder que o que lhe dão, que só pode prejudicá-los enquanto quiserem suportá-lo, e que só pode fazer-lhes mal se eles preferirem tolerá-lo a contradizê-lo.” Pág. 32

Percebemos, através desse trecho, que o livro de La Boétie é uma análise política a respeito da obediência. O texto, curto mas profundo, gira em torno da ideia de que estados e governos são mais vulneráveis do que imaginamos e que eles podem ser destituídos tão logo os governados retirem esse poder. Ele defende que não se deve ajudar os tiramos, ainda quando se acredita que possa contribuir para a redução da tirania. Lembrando que “qualquer semelhança é mera coincidência”, em relação ao panorama atual em nossa sociedade. Ou não. Boa leitura para vocês.


Marcos Tomé – Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.

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