Carlos França: das mãos de um rio-tintense, obras que aos poucos encantam o Brasil

Artista plástico de Rio Tinto vai apresentar obra no Mini Museu de arte Naif, de Paraty/RJ.

Sabe aquele dito popular: “santo de casa não obra milagre”? Pude constatar que não é bem assim. Para alguns até funcionam, mas não é o caso do artista plástico Carlos França. Ao contrário, há milagre, beleza, encantamento, cor local em suas obras. Pude constatar em uma visita que fiz ao seu ateliê, a pedido do mesmo, através de um amigo em comum.

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O que seria, de início, um reencontro entre amigos, um dos primeiros após o rigoroso distanciamento social, tornou-se uma verdadeira revelação. Cuidado! Não sou crítico das Artes, porém me encanto com o que merece realmente ser compartilhado. Tenho sensibilidade, como me disse o próprio artista. Quero crer! Apresentarei a vocês o artista e algumas de suas obras.

Quem é o artista?

Nasceu em 1976, na cidade de Rio Tinto, no estado da Paraíba. Criança, demonstrou habilidades para o desenho e pintura. Em 1988, mudou-se para João Pessoa, onde teve contato com galerias, visitou exposições e passou a nutrir o sonho de ser artista plástico. Em 2000, começou a fazer o curso de pintura, iniciando sua carreira de artista, participando de salões de artes e diversas exposições. Em 2019, começou sua nova produção, migrando para o estilo “Naif”, expondo nacionalmente e internacionalmente, de modo virtual, devido à pandemia da Covid-19.

Coroação de Nossa Senhora / Obra da III BINAIF 2021 / Acrílica sobre tela, 30 X 40 cm, Ano: 2020 / Autoria: Carlos França
Coroação de Nossa Senhora / Obra da III BINAIF 2021 / Acrílica sobre tela, 30 X 40 cm, Ano: 2020 / Autoria: Carlos França

A obra acima participou da III BINAIF 2021 – Bienal Internacional de Arte Naif, no Museu Municipal de Socorro/SP. A cena foi inspirada em uma apresentação realizada na Capela Santa Ana, a tradicional “Coroação da imagem de Nossa Senhora”, ritual comum no mês de maio, que ocorreu em 2018 no Sítio Maracujá. Comunidade onde o artista nasceu e vive até os dias de hoje.

A pintura retrata bem a decoração, com as flores tropicais que o próprio artista colheu no Sítio onde mora, e ele próprio fez a ornamentação, um costume que foi passado de mãe para filho. Aparecem na obra 12 anjos, 12 castiçais, 12 estrelas, e a lua debaixo dos pés de Nossa Senhora, fazendo referência às profecias bíblicas. Tudo se encontra representado de forma encantadora de acordo com o atual estilo do artista, o Naif.

“Arte naif (do francês, arte ingênua) é o estilo a que pertence à pintura de artistas sem formação acadêmica sistemática. Trata-se de um tipo de expressão que não se enquadra nos moldes acadêmicos, nem nas tendências modernistas, nem tampouco no conceito de arte popular.” (História das Artes. In: www.historiadasartes.com)

Carlos França acredita que a estética Naif é a mais apropriada para representar, da melhor maneira o que ele gostaria. Sem falar que o artista ama a liberdade que esse estilo lhe proporciona, levando-o a criar sem se prender a técnicas e proporções, e poder abusar das vibrações das cores. De acordo com ele, quem pinta Naif pinta com o coração, e não com o cérebro, que visa só técnicas, e fundamentos de uma pintura acadêmica.

Obra em Acervo / Tradições culturais de Rio Tinto / Acrílica sobre tela, 20 X 30 cm, Ano: 2020 / Autoria: Carlos França
Obra em Acervo / Tradições culturais de Rio Tinto / Acrílica sobre tela, 20 X 30 cm, Ano: 2020 / Autoria: Carlos França

A obra em Acervo “Tradições culturais de Rio Tinto” será apresentada em 20 de novembro de 2021, às 18h, no MIMAN, Mini Museu de arte Naif, de Paraty/RJ. Carlos participará com a obra em pequeno formato. Ela foi selecionada por uma curadoria para fazer parte do acervo permanente do MIMAN, que conta com 122 obras de artistas Naifs das 5 regiões do País.

Nesta pintura, Carlos fez um apanhado daquilo que mais se destaca no seu município, Rio Tinto. Desta forma, o artista retrata a preservação do bicho preguiça, espécie que mora nas árvores da praça central da cidade; o peixe boi marinho da Barra do Rio Mamanguape; os índios potiguaras que habitam por estas terras; a Ala Ursa, que é o marco do carnaval e tradição da cidade, e no meio, a imponente Igreja Matriz Santa Rita de Cássia, cuja arquitetura se destaca por suas construções de tijolos aparentes aos moldes ingleses (para outros, de estilo alemão). Elementos que fazem parte dos mistérios históricos de Rio Tinto, da família Lundgren, das construções locais da “cidade fabril” e do povo rio-tintense.

Depois desta apresentação, resta-nos torcer para que nosso artista consiga, cada vez mais, ter acesso a espaços onde possa expor suas criações. Para isso, para que suas obras sejam cada vez mais conhecidas e valorizadas, o artista precisa de incentivo. Atenção, patrocinadores de plantão! Temos aqui uma excelente oportunidade de fazer valer a esperança que ainda temos na cultura brasileira.


Marcos Tomé – Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.
Marcos Tomé
Marcos Tomé
Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.

4 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pela matéria meu amigo Marcos Tomé. Muito bom conhecer mais do artista #CarlosFrança. Seus quadros são muito lindos. Grande artista. O que é bom, é para ser divulgado mesmo, com todo esse carinho e zelo que bem colocaste na matéria. Espero que venham os patrocínios.

  2. Excelente matéria! A arte e a cultura de um povo é seu maior legado de civilização. Vamos valorizar os artistas brasileiros. Cácia Lima, artista plástica Naif. Grupo Naifs Brasileiros.

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