“A garota do lago” – por Marcos Tomé

A história é sobre a estudante de direito Becca Eckersley, que foi brutalmente violentada e assassinada. A narrativa é “leitura de um fôlego só”.

De Charlie Donlea – Faro Editorial

Alguém já disse que assim como o leitor pega um livro para ler, o livro também pega o leitor. Você já passou por isso alguma vez? Eu já tive diversas experiências que confirmam esta fala, ou seja, já fui “sequestrado” por muitos livros. A sensação é quase indescritível. Cada cena narrada, cada problema que surge, funcionam como verdadeiras correntes que prendem o leitor. O que torna cada vez mais impossível você se desprender do texto, até que a última página seja lida.

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E por falar em “sequestro”, o livro “A garota do lago”, de Charlie Donlea, 296 páginas, chega a nós pela Faro Editorial. O preço também é atraente, pois em algumas livrarias, tanto físicas quanto virtuais, ele chega a custar não mais que R$ 14,90. Confesso que ando saindo da zona de conforto para percorrer outros gêneros, outros autores e até mesmo outras editoras. É que, de tanto nos afeiçoar a certos modelos, acabamos por nos limitar a eles e nos esquecendo de que leitura é aventura, é percorrer lugares nunca antes visitados.

A história é sobre a estudante de direito Becca Eckersley, que foi brutalmente violentada e assassinada. Filha de um poderoso advogado, ela estava no auge de sua vida, tanto acadêmica, quanto profissional e amorosa. O cenário da trama é Summit Lake, uma pequena cidade entre montanhas. É nesse lugar, bucólico e com encantadoras casas dispostas à beira de um longo trecho de água intocada. Por ser uma cidade pequena, nada acontece neste lugar que seus habitantes não saibam.

Ela, Becca, sempre se mostrou uma moça quieta e estudiosa. Sem muitos amigos e aparentemente sem inimigos, a forma selvagem com que o crime acontece mostra que essa não parece ser a realidade. E, apesar das marcas de luta, não temos sinais de arrombamento, Becca abriu a porta para o assassino. Tudo em torno da sua morte é um mistério e isso desperta a curiosidade de todos. O fluxo de informações passa a ser barrado pelos próprios pais da garota.

Kelsey Castle torna-se a personagem principal, uma vez que ela será a responsável pelo andamento da história. Designada pelo seu redator e atraída instintivamente pela notícia, a repórter vai até a cidade para investigar o caso. Enquanto ela descobre sobre as amizades de Becca, sua vida amorosa e os segredos que ela guardava, a repórter fica cada vez mais convencida de que a verdade sobre o que aconteceu com Becca pode ser a chave para também superar as marcas sombrias de seu próprio passado. A repórter e a vítima têm um grande trauma em comum.

Este assassinato é uma das correntes que prendem a nós, leitores. Apesar deste horrível acontecimento, tudo é brilhantemente organizado para que procuremos saber como isto aconteceu (nos mínimos detalhes), até que ponto os familiares e amigos estão envolvidos, quais os possíveis motivos que levaram a esta morte e, claro, quem cometeu a barbárie e se haverá punição.

O enredo é o que podemos chamar de não linear, pois aos poucos, acontecimentos do passado explicam o presente e alguns fatos do presente esclarecem o passado, tornando a história mais dinâmica. No passado, desenrola-se a história da vida da estudante, até o momento do assassinato (um passado revisitado) e, no presente, temos o percurso feito pela repórter, desde o momento em que foi designada para a cobertura até o esclarecimento do crime.

Voltando ao fato de sair da zona de conforto e arriscar novas formas de leitura, após outro livro deste mesmo autor, constatei nele um estilo super instigante. Ele nos sequestra em seus livros. Isso mesmo! É como se o leitor se tornasse a outra vítima do antagonista, levado a uma “leitura de um fôlego só”. Os capítulos curtos proporcionam breves espaços para possamos, entre um capítulo e outro, descansar, respirar e partir para o próximo. O que acaba por se tornar uma luta, na vida real, pois temos tantas outras coisas para fazer, não sendo fácil se desprender. Enfim, este é um sequestro que vale a pena. Confira!

Marcos Tomé
Marcos Tomé
Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.

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