A educação como prática da liberdade – por Marcos Tomé

Todo autêntico profissional da educação deveria alimentar-se das ideias e das práticas presentes neste livro instigante, revolucionário.

Uma das datas mais importantes a ser comemorada por nós, brasileiros, ocorreu neste último dia 29 de setembro/2021. Na ocasião, não apenas o Brasil, mas o mundo, celebrou o centenário de Paulo Freire, considerado o Patrono da Educação Brasileira.

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Trago este fato para, de certa forma, justificar a escolha desta “dica de leitura”. Eu até poderia citar uma das obras mundialmente conhecidas, “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire. E é, entre tantas outras, uma que direciona de modo eficaz a educação, apesar de ainda hoje, ser causadora de muitos conflitos. Uma leitura para leitores e leitoras ousados, eu diria.

Em vez disso, trago “Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade”, de uma escritora que é fruto dos livros, teoria e “práxis” paulofreirianas: Bell Hooks. Uma crítica cultural, teórica feminista, insurgente e escritora. Aclamada como uma das maiores líderes intelectuais, Gloria Jean Watkins nasceu nos Estados Unidos em 25 de setembro de 1952. Atualmente, é professora de inglês no City College de Nova York. Uma discípula de Freire, crítico de um ensino em que o professor era tido como o detentor de todo o conhecimento, e o aluno apenas um “depositório” — o que ele chamava de “educação bancária”. A autora faz reverberar a voz deste revolucionário.

“… nenhuma teoria que não possa ser comunicada numa conversa cotidiana pode ser usada para educar o público.” (p. 90)

Além do texto introdutório e, no final, do índice remissivo, a obra é composta de 14 textos (capítulos). Entre eles, 2 diálogos, intitulados: “Paulo Freire” e “A construção de uma comunidade pedagógica”. Os demais capítulos são compostos por 12 ensaios. “Pedagogia engajada”, “Paulo Freire”, “A teoria como prática libertadora”, “Essencialismo e experiência”, “Estudos feministas” e “Confrontação da classe social na sala de aula” são alguns. Todas estas produções, do início ao fim do livro, giram em torno de temas como multiculturalismo, feminismo, negritude, gênero. Segundo a autora, assuntos a serem levados para dentro das salas de aula.

Os ensaios chegam até nós como se estivéssemos ouvindo uma conferencista, cujos textos possuem aquele tom de ensinamento, confirmando o estilo didático de sua atuação enquanto docente. Vale a pena enfatizar que todos os ensaios têm como ponto de partida suas próprias experiências, atreladas à teoria e principalmente sua relação com Paulo Freire, não apenas com as obras, mas também com o autor em pessoa, seu contemporâneo.

Minha experiência com ele me devolveu a fé na educação libertadora. Eu nunca quisera abandonar a convicção de que é possível dar aula sem reforçar os sistemas de dominação existentes. Precisava ter certeza de eu os professores não têm de ser tiranos na sala de aula. (p.31)

O livro, pelo menos para nós educadores, já nos chama a atenção pelo título que, a meu ver, soa também como um convite ou, mais ainda, como uma proposta: transgredir. O que deve ser visto também como uma provocação, ou até mesmo como um grito de resistência. Isto porque em nosso contexto social, político, econômico, além do educacional, esta tem sido praticamente uma necessidade vital, de autoafirmação.

Porém, mesmo sendo necessária, a transgressão exige, no mínimo, coragem, ousadia. Pelo menos é uma das tônicas que podemos perceber continuamente durante a leitura. É um verdadeiro mergulho e que exige de nós nadarmos contra a correnteza, no que se refere ao contexto político e educacional no qual estamos inseridos. Um ato de leitura subversivo!

A prática do diálogo é um dos meios mais simples com que nós, como professores, acadêmicos e pensadores críticos, podemos começar a cruzar as fronteiras, as barreiras que podem ser ou não seguidas pela raça, pelo gênero, pela classe social, pela reputação profissional e por um sem-número de outras diferenças. (p.174)

Todo autêntico profissional da educação deveria alimentar-se das ideias e das práticas presentes neste livro instigante, revolucionário. Ele busca levar docentes a fazer com que os alunos “transgridam” as diversas fronteiras: sexuais, de classe, raciais, de gênero em busca da liberdade. Segundo ela, este é o real objetivo da prática docente, uma vez que “a educação como prática da liberdade é um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”. Ousem! Vamos ler “contra a correnteza”!

Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade
Autora: Bell Hooks Tradução: Marcelo Brandão Cipolla
Editora: WMF/Martins Fontes. Ano: 2017 Páginas: 283


Marcos Tomé – Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.

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