O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão, aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS). A estimativa é que cerca de 19 milhões de brasileiros têm algum transtorno de ansiedade. Neste mês de janeiro, quando tradicionalmente é realizada a campanha ‘Janeiro Branco’, é essencial que o tema da saúde mental ganhe ainda maior relevância. Até mesmo porque as emoções afetam o sistema cardiovascular.
Tenho visto no consultório cardiológico, a cada dia, um aumento no número de pessoas ansiosas. A ansiedade e outros sentimentos podem elevar em 30% a 40% a chance de uma pessoa saudável sofrer um infarto. Além disso, a depressão, quando associada à ansiedade, funciona como uma bomba para o sistema cardiovascular.
O coração é o símbolo das emoções e a ciência comprova isso. Todos os dias, experimentamos sentimentos bons e ruins que têm um papel importante nas doenças cardíacas. Isso leva ao envio de estímulos elétricos pelo sistema nervoso ao coração e também à liberação de substâncias químicas que atuarão no nosso coração. E nós, cardiologistas, recebemos nos consultórios, com cada vez mais frequência, pacientes com transtornos de ansiedade manifestando algum problema cardiológico.
Do ponto de vista médico, a base bioquímica da síndrome do pânico é a baixa de serotonina, ocasionando sintomas diversos, como a aceleração dos batimentos cardíacos, em uma resposta corporal às emoções intensas durante a crise. Por isso, é comum os pacientes ansiosos procurarem o cardiologista, achando que estão tendo um ataque cardíaco.
EQUILÍBRIO X DESEQUILÍBRIO EMOCIONAL
Sentimentos bons e ruins têm papel importante na saúde do coração. Emoções positivas, como alegria, tranquilidade e paz, levam a um estado de equilíbrio emocional, fazendo com que o ritmo do coração fique bem ritmado.
Já as emoções negativas, como estresse, medo e tensão, levam a um desequilíbrio emocional e ao favorecimento de doenças cardíacas. Nesse caso, pode acontecer um aumento da frequência cardíaca, ocasionando sintoma de palpitação cardíaca, muitas vezes descritos como sensação de batedeira no peito ou pescoço e que pode levar a tontura, desmaio, fraqueza, dor no peito e até mesmo a uma parada cardíaca.
Por isso, quando atendo um paciente com esse sintoma, costumo fazer as seguintes perguntas: como acontece esse sintoma? Quantas vezes acontece a palpitação? Quanto tempo demora? Ocorre repentinamente ou paulatinamente? Ela para rápido ou devagar? A partir dessa conversa com o paciente, é possível identificar se há indícios de ansiedade ou se a situação exige uma investigação maior em relação ao sistema cardiovascular daquele indivíduo.
A ciência sugere uma associação entre estresse, depressão e doença cardíaca. Vários estudos sugerem fortemente que certos fatores psicossociais, como o sofrimento, a depressão e a perda de emprego, contribuem para ataques cardíacos e parada cardíaca. Por isso é muito importante a discussão sobre a saúde mental das pessoas e a orientação para que procurem ajuda especializada, se necessário.