Pequeno Manual Antirracista – por Marcos Tomé

Dez lições breves para entender as origens do racismo e como combatê-lo.

Título original: Pequeno Manual Antirracista
Capa: Alceu Chiesorin Nunes
Autora: Djamila Ribeiro
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 136
Primeira publicação: 2019

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A dica de leitura desta vez é, na verdade, um desafio a ficarmos mais por dentro de um dos assuntos mais urgentes para os dias atuais, o “antirracismo”. É importante para quem deseja não apenas aprender sobre as raízes do racismo estrutural, como também para quem precisa aprofundar seus conhecimentos. Um dos objetivos desta leitura, segundo a escritora, é buscarmos assumir uma postura diferente frente a sociedade, seja no ambiente escolar, no ambiente de trabalho, no bairro ou até mesmo em nossa própria família.

Quem é Djamila Ribeiro? Ela é mestre em filosofia política pela UNIFESP, colunista da Folha de São Paulo e já atuou como secretária adjunta de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo. Atualmente ela coordena a coleção Feminismos Plurais, da editora Pólen, e atua no grupo Promotoras Legais Populares (PLPs), uma rede de formação de lideranças femininas em periferias do estado de São Paulo, e de juízas e juízes que buscam mudar o olhar judicial sobre a população negra.

“Quando criança, fui ensinada que a população negra havia sido escrava e ponto, como se não tivesse existido uma vida anterior nas regiões de onde essas pessoas foram tiradas à força. disseram-me que a população negra era passiva e que ‘aceitou’ a escravidão sem resistência.” (p. 7)

Através de muitas pesquisas econômicas, sociológicas, históricas, podemos hoje perceber que o racismo não é um simples ato de vontade individual. É, antes de tudo, um complexo sistema histórico de opressões, de massacres, até mesmo de genocídio que nega direitos e discrimina pessoas negras, indígenas e tantas outras minorias. É parte estrutural e fundamental das relações sociais.

Quais a ideias que temos sobre o racismo? Somos ou não racistas? O que verdadeiramente caracteriza um pensamento racista, uma atitude racista, uma postura racista? Basicamente estas são algumas das indagações a que este livro se propõe responder. Não basta dizer que não somos racistas é mais do que necessário tomarmos atitudes antirracistas. Djamila, entre tantos questionamentos nos desafia a responder: “O que, de fato, cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista? Mas como isto pode, na prática, acontecer? São onze capítulos, cujos títulos são orientações mesmo, como por exemplo, “Informe-se sobre o racismo”, “Perceba o racismo internalizado em você”, “Leia autores negros”, “Combata a violência racial”. Isto, para citar apenas alguns.

“Enquanto atores brancos e atrizes brancas recebem amplas oportunidades de representação na indústria audiovisual, negros e negras ainda lutam para que suas atuações não firam a humanidade de pessoas negras.” (p. 80)

Em um formato que cabe mesmo na palma da mão, daí ser chamado de “pequeno manual”. A palavra “pequeno” faz parte do título e apresenta realmente o tamanho do livro, porém não se enganem, pois ele é enorme e profundo no trato com os assuntos nele abordados pela autora. O livro traz aquela “leitura de um fôlego só”, uma expressão que indica uma forma de leitura em que nós mergulhamos e chegamos ao fim em um tempo curto de leitura. Não apenas pelo quantitativo de páginas, nem pelo formato, mas também pela maneira como o tema é abordado. É difícil chegar ao fim de um capítulo sem a vontade de querer partir para o próximo.

“Entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de indivíduos não negros (brancos, amarelos e indígenas) diminuiu 6,8%, enquanto no mesmo período a taxa de homicídios da população negra aumentou 23,1%.” (p.94)

Alguns conceitos muito fortes são trazidos pela escritora e que chega a impactar nossa visão de mundo. Ela traz, por exemplo, o conceito de “lugar de fala”, ou seja, o locus social de onde cada pessoa parte para pensar e se posicionar diante do mundo, partindo de suas experiências em comum. Ela traz também conceitos e informações advindos de outros trabalhos (dissertações, teses, livros, leis, pesquisas), de pessoas e de instituições renomadas nacional e internacionalmente. E todas as obras citadas, nas duas partes finais do livro (Notas e Referências Bibliográficas) são muito bem apresentadas para que possamos estender nossa leitura.

Depois de todas estas informações e apreciações a respeito deste “pequeno grande livro”, que não se esgotam neste texto, agora é com vocês, leitores e leitoras. Uma das coisas que caracterizam uma leitura proveitosa, instigante, construtiva, é o fato de que por mais que se fale ou que se escreva sobre ela, temos muito mais a falar e a escrever. Por isso, é melhor parar por aqui. Isto é apenas uma dica de leitura.

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