Omitir informação durante consulta prejudica tratamento – por Dr. Valério Vasconcelos

Em geral, esse tipo de omissão por parte dos pacientes ocorre com remédios ou dietas.

Um dado curioso e preocupante. Um estudo publicado em 2018 mostra que entre 60% e 80% das pessoas entrevistadas admitiram que não foram honestos o suficiente com seus médicos. Além de mentir sobre dieta e exercícios, mais de um terço dos entrevistados não se manifestou ao discordar da recomendação do médico.

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Realizada por cientistas de diversas universidades, entre elas as de Utah, Michigan e Iowa, nos Estados Unidos, a pesquisa evidencia que a maioria dos pacientes não diz toda a verdade durante as consultas. A realidade registrada pelos pesquisadores norte-americanos também se reflete por aqui.

Em geral, esse tipo de omissão por parte dos pacientes ocorre com remédios ou dietas. É muito comum no consultório, por exemplo, a situação em que, durante a história clínica, o paciente omite alguma informação crucial para o diagnóstico da doença. Uma estratégia que uso é perguntar ao paciente qual a dosagem da medicação que ele está usando. Se ele não souber responder, é porque não está seguindo o que indiquei. É fundamental que o paciente conte tudo. Essa franqueza pode salvar a sua vida.

Além de ser prejudicial à necessária relação de confiança entre médico e paciente, faltar com a verdade também prejudica o tratamento. É muito comum, por exemplo, a pessoa achar que uma medicação à base de plantas é inofensiva e por isso omite tal informação, mas o uso desse produto pode causar alguma interação com a medicação prescrita. Por isso, é essencial que os médicos informem aos pacientes sobre as consequências de não falar a verdade.

Medo de levar bronca

Muitas vezes os dados são omitidos por esquecimento do paciente, outras vezes por medo de levar uma bronca por não tomar a medicação indicada pelo médico. A sinceridade, no entanto, deve ser regra básica, mesmo que para isso seja necessário fazer um checklist de informações importantes antes da consulta, para não correr o risco de esquecer.

O paciente nunca deve deixar de falar um sintoma, por mais banal que imagine ser. Às vezes, isso é a chave para o diagnóstico. Também é muito importante dizer se está usando a medicação ou não e qual a dosagem utilizada bem como ser honesto em suas necessidades. Algumas pessoas dizem que têm problemas ou sintomas para obter determinado tratamento, mas tal tratamento também pode causar problemas sérios. Com isso, os pacientes se colocam em riscos desnecessários.

De acordo com estudos diversos, os pacientes costumam falam inverdades para seus médicos sobre: frequência com que se exercitam; quanto e o que comem; hábitos relacionados a álcool e tabagismo; e parceiros sexuais. Muitos pacientes omitem esses e outros comportamentos para evitar julgamentos. Isso pode tornar mais difícil dar diagnósticos precisos e pode colocar o paciente em risco de receber prescrição de medicamentos que podem ter efeitos adversos.

Médicos podem ajudar

Se as pessoas têm o hábito de falsear a realidade com medo de julgamentos durante a consulta, os médicos podem colaborar na construção de uma relação de maior confiança e sinceridade. O essencial é: não julgar, não ser confrontador, evitar ser crítico e deixar os pacientes saberem que você se preocupa com eles.

Médicos não devem dar sermão em pacientes que admitem um hábito prejudicial à saúde. A pessoa pode não falar sobre o consumo de álcool para evitar uma bronca de seu médico, ou porque um dos pais ou cônjuge está na sala. Uma jovem, por exemplo, pode não falar sobre sua atividade sexual porque não quer que a mãe saiba.

Eu evito ser crítico com os pacientes, porque quero que eles se sintam bem-vindos para se corrigirem e não se esconderem mais. Normalmente, quando veem que estou do lado delas, as pessoas se abrem e contam coisas que não contaram a ninguém. Essa é uma responsabilidade sagrada e muito importante para mim. Como médico, preciso fazer com que o paciente entenda que minha principal motivação é ajudá-lo.


Valério Vasconcelos é doutor em cardiologia pela Universidade de São Paulo/Instituto do Coração (USP/INCOR), pesquisador e escritor. Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médico pesquisador no Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP (InCor/FMUSP).

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