Domingo é dia de recreio e de missa. Aproveitando a alegria desse dia, volto ao tempo dos bons filmes e das boas histórias inocentes. Relembro a película produzida pela “Paramount”, estrelando Kirk Douglas e Anthony Quinn, um faroeste hollywoodiano (1959), o qual eu recomendo aos amantes dos clássicos do cinema.
O título foi sucessivamente utilizado para nominar outros clássicos, porém, aquele ficou na minha mente de forma indelével. Pela força do título, pelo enredo, roteiro, produção, direção e pelas interpretações fantásticas.
O tempo passa e vejo-me em uma época, quase vinte anos depois daquele filme, participando como cúmplice na construção de um novo grande combate. Este duelo de titãs teve como personagens duas grandes figuras humanas da minha estima e admiração. Cada uma com perfil próprio, totalmente distinto.
O personagem aqui nominado número 1, médico cirurgião, de origem familiar da pura elite fundiária do Nordeste brasileiro, proprietário rural de engenho de açúcar na Zona da Mata pernambucana/alagoana, cultuava o seu avantajado e malhado físico nas melhores academias de fisioculturismo de Recife. Chamava atenção de todos, fazendo lembrar um guerreiro de Esparta.
Para mim, como contraparente, era uma segurança frequentar ambientes em sua companhia. Quem ousaria mexer conosco?
Em brincadeiras familiares, simulávamos mentalmente assistir, um dia, algum desafiante ousar medir forças com ele. Passaremos a chamar de “Lulu Bolinha”, evitando identificá-lo pelo seu verdadeiro nome e sobrenome por razões óbvias.
Já o segundo personagem, o número 2, era um homem extremamente simples, semianalfabeto, cuja profissão desde a adolescência era cavar cacimbões na zona rural do Moxotó pernambucano para proporcionar água em propriedades. Sua família originária daquela região sofrida necessitava do seu trabalho para o sustento da casa.
Seu físico avantajado era fruto do trabalho, de sol a sol, no manuseio de pás, picaretas, alavancas, que serviam para romper o solo cristalino daquela região. Era o que podemos definir como um brutamonte forjado no trabalho e na adversidade.
Na cultura social do Nordeste rural, por ser nosso vizinho e prestar serviços a toda família, fazia parte dela. Um amigo da casa.
Sua mão impressionava. Uma tapa daquele gigante, por mais suave que fosse, me faria um molusco invertebrado em segundos. Passaremos a chamá-lo de “Sidraque Dedo de Alicate”.
O local da cena foi a casa grande de uma tradicional propriedade rural de um Coronel do Sertão pernambucano que passaremos a chamá-lo de Doutor Dema.
Eis que, de repente, em um julho da vida, todos nós tramamos aquele tão sonhado encontro de titãs.
Como eram cordiais amigos, não havendo em absoluto nenhuma rixa que motivasse um combate ferino, teria que ser uma disputa desportiva. Foi marcada a hora, o dia, o local e o ringue. A santa padroeira que nomina a propriedade foi evocada para que tudo desse certo.
A plateia de pé assistia a tudo. Uma queda de braço foi a modalidade escolhida. Seu Adão, meu motorista, era o juiz. Caso se complicasse, já estava com a chave do carro no bolso para desaparecer léguas adiante. Uma mesa antiga foi retirada do acervo da casa grande e posta à disposição dos dois gigantes.
Inicia-se o combate, os minutos passam, o suor salpica da face dos dois e nada, nenhum move o braço do outro. De repente, ouve-se gemidos. Alguém entregando os pontos? Nada disso.
Assistimos atônitos à histórica mesa espatifar-se. Não restou nada. Desintegrouse. Corremos todos, inclusive, os brutamontes que duelavam, com medo do Coronel.
Hoje, 42 anos depois, convivo a distância com os dois amigos, sempre com o sonho não realizado de assistir ao final de um duelo de titãs entre um médico e um cavador de cacimbões. Até hoje o placar está empatado.