Ao decidir ler este livro, fui movido ainda pelos acontecimentos provocados pela pandemia, que ainda insiste em permanecer entre nós. E, diga-se de passagem, acontecimentos nada agradáveis e que, de alguma forma, provocaram em nós uma enxurrada de pensamentos negativos, gatilhos para os medos, para a insegurança, para a ansiedade, deixando-nos apavorados pela incerteza do amanhã e drasticamente marcados por muitas perdas. Quem não passou por isso atire a primeira pedra!
O autor, neurocientista e psicólogo, parte de suas próprias experiências, melhor ainda, de suas próprias lutas com seus pensamentos, de sua luta para separar os pensamentos movidos pela emoção e dos pensamentos movidos pela razão e, após uma avaliação de ambos, reter os que promovem nossa autoconstrução. Meta: sempre deletar os pensamentos negativos. Além de sua própria experiência, ele compartilha conosco, leitores e leitoras, seus estudos e suas pesquisas, todos direcionados para esta temática.
“Todos nós temos uma voz interna que nos ajuda a manter o foco, traçar objetivos, tomar decisões e relembrar os bons momentos. Mas essa voz também pode se tornar nosso maior inimigo, ruminando emoções dolorosas e envolvendo nossos pensamentos em espirais de negatividade.” – Editora.
Para que você não pense que o livro tem como foco apenas a vida do autor, ele compartilha conosco também histórias de pessoas famosas que, tidas como pessoas fortes e campeãs, foram atropeladas em suas carreiras por estes pensamentos “destruidores” (nome dado por mim). E não são poucas as vezes que estes pensamentos desviam nossas ações, ou paralisam nossas atitudes. E isto acontece um número de vezes bem maior do que possamos imaginar. E esta leitura, dentre outras coisas, nos faz olhar para nós mesmos, nos leva a pensar em nossos próprios pensamentos, como eles são geridos, direcionados.
A partir do primeiro capítulo, intitulado “Por que falamos com nós mesmos”, o autor já nos coloca a par, sempre em um tom muitíssimo explicativo, de como acontece este diálogo constante que cada um tem consigo. De que forma estes inevitáveis diálogos ocorrem. E aí, não há como não se identificar com esta característica extraordinária que há nos seres pensantes. No capítulo “Quando falar com nós mesmos é um tiro que sai pela culatra”, ele nos esclarece os dois lados da moeda, ou melhor, do diálogo que temos com nós mesmos.
“A todo momento somos bombardeados por informações, incontáveis imagens e sons, além de pensamentos e sentimentos que esses estímulos despertam. A atenção é o que nos permite filtrar as coisas que não importam para podermos nos concentrar nas coisas que importam.” Pág. 40
Uma vez esclarecido o terreno do nosso pensamento, uma verdadeira arena na qual ideias boas e ideias más se digladiam em nosso interior provocando, consequentemente, comportamentos construtivos ou destrutivos, o autor nos fala sobre diversas formas de separamos o “trigo” do “joio”, apresentando-nos estratégias bastantes dinâmicas como os capítulos “Diminuindo o zoon”, “”Quando eu me torno você” e “De fora para dentro”. Direcionamentos a partir de vivências do próprio autor e dos estudos experienciado em suas pesquisas. Tudo voltado para redirecionar esse fluxo de pensamentos dialogados a nosso favor, para nosso crescimento interno e externo.
De forma mais abrangente, eu diria que é um livro escrito para quem pensa. Então percebemos que ninguém pode ficar fora desta leitura. Além disso, é um livro para quem tem curiosidade em saber como os nossos pensamentos funcionam, como as ideias nos chegam à nossa cabeça e, mais que isso, o que fazer para organizá-los, colocando cada um em seu devido lugar e até mesmo descartando os que não têm nenhuma utilidade. Este é o maior desafio lançado pelo autor.
Uma coisa é certa: eles, os pensamentos, sempre estarão povoando nosso cérebro e, mais que isto, nosso comportamento será ditado por eles. Cabe a nós nos deleitarmos com essa leitura, e assumirmos verdadeiramente o controle sobre nós mesmos, enquanto ainda podemos.
Autor: Ethan Kross
Tradutor: Claudio Carina
Editora: Sextante, 2021.
Marcos Tomé – Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.
