“A revolução dos bichos” – por Marcos Tomé

O livro procura mostrar como na formação de uma sociedade, os que chegam ao poder podem se corromper.

Autor: George Orwell. Tradução: Heitor Aquino Ferreira. Editora: Companhia das Letras. Páginas: 147

A revolução dos bichos é uma fábula sobre o poder. Apenas para relembrar, a fábula é um gênero narrativo, de caráter ficcional, e que usa a alegoria para construir seus sentidos. Os animais, que são personagens, possuem características humanas, como a ganância, a preguiça, a inveja, a sabedoria, a astúcia etc. Por meio dessas características, as personagens movimentam-se e a história desenrola-se, levando à construção de um ensinamento.

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Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século XX, George Orwell, nome fictício de Eric Arthur Blair. O autor nasceu em 1903, na Índia, onde seu pai trabalhava para o império britânico, e estudou em colégios tradicionais da Inglaterra. Jornalista, crítico e romancista, é um dos mais influentes escritores do século XX, famoso também pela publicação do romance 1984. Morreu de tuberculose em 1950.

Esta narrativa, especificamente, fala sobre a revolução dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolta vai, aos poucos, tomando forma numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Uma das frases que marcam o desenrolar da fábula é “todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros.”

A história acontece em uma fazenda que costumava ser comandada por um homem e passa a ser liderada por bichos, após uma revolução planejada e executada pelos próprios animais. Os bichos revolucionários acreditavam que conquistariam sua liberdade quando trabalhassem apenas para si mesmos.

“A asa de uma ave, camaradas, é órgão de propulsão, e não de manipulação. Deveria ser vista mais como uma perna. O que distingue o Homem é a mão, o instrumento com que ele perpetra toda a sua maldade.”

O ideal era que todos os animais fossem iguais entre si. Entretanto, nada é tão simples quanto parece. Assim que um certo grupo de animais assume o comando da granja, as coisas começam a mudar pouco a pouco. O livro procura mostrar como na formação de uma sociedade, os que chegam ao poder podem se corromper, utilizando-se de um ideal ou de um inimigo em comum entre todos para manipular a população.

Uma das informações curiosas sobre esta fábula é que ela foi escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, após ser rejeitada por várias editoras. Essa pequena narrativa provocou desconforto ao satirizar fortemente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.

Com a Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram ‘A revolução dos bichos’ a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto, ou seja, servindo apenas difamar determinada ideia política.

Mais de sessenta anos depois de escrita, a fábula mantém o brilho de um texto que, de forma figurada, comparativa, retrata o comportamento e as fraquezas humanas que levam ao enfraquecimento dos grandes projetos de revolução política. É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens.

De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens. Escrito com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política.

Além da narrativa propriamente dita, a edição nos fornece três textos extras: um posfácio, intitulado “Repensando A revolução dos bichos”, da autoria de Christopher Hitchens e dois apêndices, com os quais o autor nos proporciona belíssimas reflexões. O primeiro tem como título “A liberdade de imprensa”, elaborado para a primeira edição (1945) e o segundo, “Prefácio do autor à edição ucraniana (1947). Ambos os textos são riquíssimos, uma vez que colocam o leitor mais em sintonia com a obra, pois trata-se de esclarecimentos, comentários e observações sobre o contexto deste maravilhoso livro.


Por Marcos Tomé – Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.
Marcos Tomé
Marcos Tomé
Graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, é especialista e mestre em Língua Portuguesa (UFPB); também é professor de Língua Inglesa.

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